ATA DA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 19-03-2002.

 


Aos dezenove dias do mês de março do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e dezessete minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o centésimo aniversário de nascimento do Senhor José Loureiro da Silva, ex-Prefeito Municipal de Porto Alegre, nos termos do Requerimento nº 028/02 (Processo nº 0741/02), de autoria da Mesa Diretora, por solicitação do Vereador João Antonio Dib. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; as Senhoras Irene Loureiro Macedo e Regina Schneider Loureiro, respectivamente filha e nora do Homenageado; o Senhor José Macedo, genro do Homenageado; o Senhor João Carlos Bona Garcia, Presidente do Tribunal Militar do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor José Sanseverino, Provedor da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; os Senhores Guilherme Socias Villela e Manoel Braga Gastal, respectivamente ex-Prefeito e ex-Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Airto Ferronato, Diretor-Geral do Departamento de Esgotos Pluviais - DEP; a Senhora Vandira da Silva Porto, Diretora da Escola Municipal José Loureiro da Silva; o Vereador João Antonio Dib, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem os Hinos Nacional e Rio-Grandense, executados pela Banda de Música Municipal de Porto Alegre, sob a regência do maestro Sepé Tiaraju Teixeira e, como extensão de Mesa, registrou a presença do Capitão-de-Fragata Péricles Vieira Filho, Delegado da Capitania dos Portos de Porto Alegre. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Antonio Dib, em nome das Bancadas do PPB, PTB, PPS, PMDB e PSB, discorreu a respeito da trajetória pessoal e política do Senhor José Loureiro da Silva, ressaltando as características de lealdade e coragem presentes na vida pública de Sua Senhoria, especialmente no que tange aos ideais demonstrados pelo mesmo em prol do desenvolvimento sócioeconômico de Porto Alegre. O Vereador Adeli Sell, em nome das Bancadas do PT e PC do B, lembrou diversas obras públicas que receberam o nome do Senhor José Loureiro da Silva, enfatizando a importância que representou para Porto Alegre a gestão inovadora e competente de Sua Senhoria no período em que administrou a Cidade. Também, parabenizou o Vereador João Antônio Dib pela solicitação da presente solenidade. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença dos Senhores Celito de Grandi e Segundo Brasileiro Reis e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT e PFL, saudou o Vereador João Antonio Dib pela indicação da presente homenagem, alusiva ao centenário de nascimento do Senhor José Loureiro da Silva, salientando sua satisfação em participar da mesma e destacando o empenho e dedicação externados pelo Homenageado na condução de suas atividades como administrador de Porto Alegre. Em prosseguimento, foi realizada apresentação artística por alunos da Escola Municipal José Loureiro da Silva, orientados pela professora Maria Celeste Polaor Etges, que discorreu acerca de projetos educacionais desenvolvidos pela referida Escola. A seguir, o Senhor Presidente informou que, ao término da presente Sessão, seria realizada a abertura da mostra “Loureiro, o Homem que Amou Porto Alegre”, no Salão Adel Carvalho do Palácio Aloísio Filho, convidou os presentes para, em pé, ouvirem o Hino de Porto Alegre, executado pela Banda de Música Municipal de Porto Alegre, sob a regência do maestro Sepé Tiaraju Teixeira e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e dez minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Reginaldo Pujol e secretariados pelo Vereador João Antonio Dib, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, João Antonio Dib, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear os cem anos do nascimento do Prefeito José Loureiro da Silva. Convidamos para compor a Mesa o Sr. José Macedo; Sr.ª Irene Loureiro Macedo, filha do homenageado; Sr.ª Regina Schneider Loureiro, nora do homenageado; Sr. João Carlos Bona Garcia, Presidente do Tribunal Militar do Estado; Sr. José Sanseverino, Provedor da Santa Casa; Sr. Guilherme Socias Villela, ex-Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Manoel Braga Gastal, ex-Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; Professora Vandira da Silva Porto, Diretora da Escola Municipal José Loureiro da Silva; Sr. Airto Ferronato, Diretor-Geral do Departamento de Esgotos Pluviais, ex-Vereador desta Câmara Municipal.

É com muita satisfação que nós abrimos os trabalhos desta Sessão Solene que tem na origem a lembrança e postulação do nosso colega e ex-Prefeito da Cidade Ver. João Antonio Dib, o qual postulou junto à Mesa Diretora que oficializou a convocação desta Sessão Solene.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional e o Hino Rio-Grandense que serão executados pela Banda de Música Municipal de Porto Alegre regida pelo Maestro Sepé Tiaraju Teixeira.

 

(Apresentação da Banda de Música Municipal de Porto Alegre que interpreta o Hino Nacional e o Hino Rio-Grandense.)

 

O Presidente da Câmara Municipal, José Fortunati, solicita-me que transfira aos familiares do Dr. José Loureiro da Silva as homenagens de toda a Câmara Municipal, externada de forma muito expressa na decisão unânime do Plenário deste Legislativo que, acolhendo a proposição da Mesa, inspirada no Ver. João Antonio Dib, permite-nos estar reunidos no dia de hoje para homenagear esse ilustre porto-alegrense.

Loureiro da Silva nasceu em 1902 e viveu toda sua vida aqui na nossa Cidade, estudou no Colégio Júlio de Castilhos, diplomando-se pela Faculdade de Porto Alegre na turma de n.º 23, e com uma trajetória política das mais brilhantes, não só na área jurídica, eis que foi Promotor em Camaquã, São Luiz Gonzaga, São Gabriel, também Chefe de Polícia em Alegrete e Santa Maria. Homem de posição, de ideais, decidiu, na época do Gen. José Antônio Flores da Cunha, ingressar no Partido Liberal, pelo qual foi Deputado Estadual. Foi, sem dúvida nenhuma, um dos grandes prefeitos da Cidade de Porto Alegre, marcando, de forma muito firme, uma transformação da antiga Capital da Província na moderna cidade que, mais tarde, iria ter outros grandes prefeitos a continuar a sua tarefa, alguns dos quais nos honram com sua presença hoje, especialmente o meu querido amigo Guilherme Socias Villela, em cuja administração eu tive o prazer de contribuir, por três oportunidades, formando a sua equipe de trabalho.

Então, esta circunstância desta Sessão Solene, um toque muito especial, razão pela qual eu tenho de me associar por inteiro à iniciativa, e penso que não poderia fazê-lo de forma mais expressiva do que concedendo, como irei fazer neste momento, a palavra ao Ver. João Antonio Dib, ex-Prefeito desta Cidade, proponente desta Sessão, e que falará também pelas Bancadas do Partido Progressista Brasileiro, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, do Partido Trabalhista Brasileiro, do Partido Socialista Brasileiro e do Partido Popular Socialista.

Registramos a presença do Delegado da Capitania dos Portos do Rio Grande, Capitão-de-Fragata Péricles Vieira Filho, a quem peço que, simbolicamente, considere-se integrante da Mesa Diretora dos trabalhos.

O Ver. João Antonio Dib está com a palavra pelo PPB, PMDB, PTB, PSB e PPS.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: “Sou o último de uma geração de homens para quem a palavra valia o que os documentos não valem hoje.” Palavras de José Loureiro da Silva, homem que amou Porto Alegre, ditas em dezembro de 1963, na Baltazar de Oliveira Garcia.

(Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sou daqueles que pensam que o tempo não passa, que o tempo se mantém imutável e inalterável. Nós é que passamos por ele sem que possamos modificá-lo. Mas se o tempo não passa, se nós é que passamos, algumas pessoas conseguem marcar o tempo, e Loureiro da Silva foi uma dessas pessoas que marcou, profundamente, o tempo. Marcou época na história do Rio Grande e na história de Porto Alegre.

Hoje nós lembramos dele com saudades e, como alguém disse certa vez: “a saudade é a ponte que une o passado e o presente.”

Recordo aquela tarde de 03 de junho de 1964, quando a notícia desabou sobre a Cidade, abalando o coração do povo: Loureiro morria! Forte, risonho, cheio de confiança e disposição cívica, ele caminhava pelo Centro da Cidade, vindo do seu retiro ameno de Tapes, para de novo entregar-se às agruras da vida pública. Foi quando a morte o fulminou em poucos segundos como a dizer: “Chega, Loureiro! Já deste muito.” Ele morreu como as árvores fortes costumam morrer: de pé.

Loureiro da Silva foi um momento singular e de marcante importância na vida de Porto Alegre. A ela dedicou toda a sua existência, consagrando-lhe os momentos mais preciosos da melhor quadra de uma vida pública toda marcada pelo ideal de bem-servir. Difícil seria precisar a virtude característica de Loureiro, no entanto, a par da sinceridade e de seus propósitos, da autenticidade de suas posições e da fé inabalável que tinha nos seus princípios, a lealdade era o traço marcante de seu caráter e de sua personalidade. Era leal aos seus princípios, aos seus amigos, aos seus colaboradores e até aos seus adversários e inimigos, se os tivesse. Como era leal, não acreditava na deslealdade alheia, razão por que teve muitas decepções.

Era destemido. Sempre imbuído de sinceridade de propósitos, lutava com todas as forças, a fim de que triunfasse a sua vontade, mesmo que a vitória lhe causasse o desgaste político. Enfrentava a oposição com ímpeto de vencer e vencia, principalmente nesta Casa Legislativa, onde sempre teve a minoria a apoiar a sua administração.

São frases suas: “Eu faço versos na pedra, construindo o poema de uma cidade nova”; “As cidades são como as criaturas: nascem, amam e sofrem”; “Esta Cidade que eu amo tanto.”

Em 21 de abril de 37, a convite do General Daltro Filho, assumia pela primeira vez a Prefeitura de Porto Alegre em substituição a Alberto Bins. No dia da sua posse dizia: “Sou desta Cidade, aqui nasci, aqui tenho vivido, aqui tenho sofrido e lutado: posso dar-lhe a vida em holocausto. Sendo filho de Porto Alegre sinto as suas aspirações. Procurarei servir minha Cidade sem medir sacrifícios.” O tempo se encarregaria de mostrar que não eram palavras bonitas, mas, sim, uma profissão de fé.

Em 1940, saudando o Presidente Getúlio Vargas, ele afirmava: “Não tenho o mérito isolado destas realizações de vulto, mas sobra-me a convicção de que, com uma admirável equipe de técnicos, se possa fazer uma cidade digna do seu passado. Quis o destino, na sua torrente imprevisível, após duzentos anos, que o neto governasse a velha estância do avô ancestral.”

Falando sobre Loureiro, Coelho de Souza disse: “Foi o bacharel menos bacharelesco que conheci.” Na realidade, Loureiro foi mais técnico do que jurista. Hoje nós relembramos o entusiasmo e o carinho com que acompanhava as obras. Loureiro foi um bacharel-engenheiro.

Ao deixar a Prefeitura, quase seis anos depois, ele recebia a homenagem do povo de sua Cidade e dizia: “E ao voltar para o meu lar, sem prevenções, sem os tormentos, sem dissabores, sem a maledicência onde entremeia a vida de todo homem público, peço humildemente desculpas a todos os meus inimigos e desafetos, se os tiver, pelas injustiças que, por acaso, tenha cometido, já que, sinceramente, do fundo do coração, eu lhes perdoei todo o mal que me fizeram.”

Da Prefeitura passou para a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. Mais uma vez suas qualidades de emérito administrador foram evidenciadas.

Com a deposição de Vargas, em 1945, Loureiro retorna a Tapes. Mas por pouco tempo, eis que, em 1946, é chamado por Vargas para organizar o Partido Trabalhista Brasileiro, que teria em Alberto Pasqualini o grande doutrinador.

Com a volta de Vargas ao poder, Loureiro retornava ao Banco do Brasil, lá permanecendo até a morte de seu grande amigo. As classes produtoras de todo o País apelaram em vão para que ele continuasse, mas ele dizia: “Retorno à minha terra, amargurado e triste. Volto ao Rio Grande apreensivo com o que vi e ouvi nestes últimos tempos e com a experiência decepcionante de homens e de fatos. Sinto o conforto de ter sido útil ao meu País, especialmente ao Rio Grande. Toda a minha vida pública gravitou em quase trinta anos, nas horas boas e más, em torno do inesquecível mestre e amigo Dr. Getúlio Vargas. Acompanhei-o vivo, lealmente, e agora, que está morto, quero honrar sua memória.”

Mais uma vez ele marcaria o tempo com a sua consagrada vitória na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, na eleição de 1959.

O cidadão Loureiro, que entendia a mocidade da década de 60, dizendo que ela não podia ser igual à de seu tempo, pois que o mundo mudara, afirmava que somente quando terminar a loucura de dois mundos - Oriente e Ocidente - separados, é que os jovens irão mudar. Em 1963, Loureiro dizia: “No Brasil está todo mundo perdido. Há uma série de deficiências conjugadas. Impõe-se uma reforma substancial na vida política, administrativa e social da Nação.” Será que não valeria para hoje?

Segundo Nilo Ruschel: “Se esta Cidade foi amada com um amor-paixão, foi Loureiro da Silva seu amante.”

Segundo Egydio Michaelsen: “A melhor homenagem que todos os gaúchos podem prestar a Loureiro é seguir o exemplo de sua vida, que foi estar pronto, em qualquer emergência, ao serviço impessoal da coletividade.”

A vida é uma larga e longa estrada, misteriosa e sem desvios. É necessário percorrê-la como farrapo vencido ou como homem vencedor. Loureiro foi um vencedor. Destemido, caminhou firme, confiante nos seus dignos objetivos. Ante a malícia e o ódio, sabiamente soube controlar-se. Foi sereno e severo, sem ser cruel. Consciente de seu dever na vida, agiu sem pressa, com firmeza, encarando paciente e confiantemente a solução dos problemas. Não se assustou diante dos obstáculos. Diante da ira e da revolta, foi superior e compreensivo.

Agiu de maneira progressiva, com a certeza de que todo o acontecimento é passageiro e o mal aparente é efêmero, pois somente o bem prosseguirá.

Sobre o caráter de Loureiro da Silva, a melhor definição é de Coelho de Souza, quando, discursando à beira de seu túmulo, ele disse: “Bravo, galhardo, honrado e generoso e, por vezes, assomado e incontido. Essas características é que lhe imprimiam autenticidade incontestada e o convertiam num pedaço vivo do Rio Grande.”

Sua alma de poeta também se revela no discurso de saudação à Margarida Lopes de Almeida, pronunciado em 29 de abril de 1922, no Teatro São Pedro: “Eu sou sorriso, se os versos riem, e sou lágrimas, se as rimas choram. Sou gorjeio pelas madrugadas e cisma na sonolência dos poentes. Sou bruma, se falo dos outonos, e fagulhas de sol, se relembro os estios. Sou amor e sou ódio, sou desalento e esperança, sou glória e martírio.”

Mas, quer como poeta, como administrador, como político, como banqueiro ou como diretor de financeira, o traço marcante do seu caráter, como bem acentuou o Professor Carlos de Brito Velho, foi o de se entregar de todo àquilo que realizava. Não era homem de meias medidas, pois, quando empreendia algo, todo o seu ser vibrava, de corpo e alma, para concretizar o seu desejo. Poder-se-ia afirmar ser um poeta buscando a rima certa, versejando de corpo e espírito, dando tudo de si para a consecução final do “poema”, que tanto poderia ser uma avenida, uma escola, uma rua calçada, uma creche, um livro, um discurso, um revide ao adversário político ou um gesto de lealdade para com um subordinado.

E esses sabiam que à testa do governo estava um homem sem meias medidas, sem recuos, probo, capaz de se fazer respeitar a si e ao cargo que ocupava. Daí a hierarquia, a disciplina, o empreendimento. Era um temperamento incapaz de se limitar às quatro paredes do presente, pois seu olhar estava sempre voltado para a janela do futuro.

Seu caráter firme e resoluto lhe granjeou o cognome de “Prussiano da Lagoa dos Patos”, que lhe foi dado por Assis Chateaubriand. E, justamente, a firmeza de caráter, esse seu “prussianismo”, que dava tudo de si e exigia o mesmo dos outros, era a mola propulsora do seu agir, a segurança que dele se irradiava, conferindo aos auxiliares a certeza de que tinham um chefe, um guia, um amigo leal, que não os abandonaria na hora crucial.

Repito suas palavras em Encantado, em 29 de março de 1953: “Ainda hoje, como o ancião de Canaã, olho sempre as estrelas companheiras de outrora, das longas noites de sonho e de cismas.

Lembro minha terra, as suas várzeas melancólicas, os seus rios profundos, as suas montanhas atormentadas. Por esta homenagem, que agradeço emocionado, nas evocações da minha saudade, e pensando que estou mais perto, mais junto de vós e da vossa terra, dentro das largas noites, o meu sono será mais tranqüilo.”

E nós diríamos: realmente, na longa noite da eternidade seu sono será tranqüilo, porque é daqueles que descansam em paz com a certeza reconfortante do dever cumprido.

E, para encerrar, eu quero chamar a atenção de todos os senhores. Vou pedir que Loureiro da Silva fale e quero que prestem atenção como ele parecia entender, naquele fim de ano de 63, que ele estava-se despedindo da sua Porto Alegre, quando, ao invés de dizer “ser”, ele fala “ter sido” e corrige para “ser”.

“Eu, cada vez mais, me orgulho de ter sido, de ser filho desta Cidade, porque ela será um exemplo e é um exemplo em todo o nosso País, sobretudo numa época como essa, de inquietações, de dúvidas, de medos, porque Porto Alegre ainda é uma cidade que, mesmo que se abra a caixa de Pandora, de onde saem todos os males, ela fica no fundo do seu coração, uma esperança, uma grande esperança no seu futuro.” Lamentavelmente a gravação não foi boa, mas ele dizia que cada vez mais se orgulhava de “ser” e antes ele errava ao dizer “ter sido” filho desta Cidade, e que, por mais que abra a caixa de Pandora de onde saem todos os males, resta sempre, no fundo, no coração de todos nós porto-alegrenses, a esperança, a certeza de um dia melhor. Saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): O Ver. Adeli Sell está com a palavra em nome do Partido dos Trabalhadores e também como representante oficial do Sr. Prefeito Municipal nesta solenidade.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estamos aqui na Avenida Loureiro da Silva. Estamos a poucos metros de um monumento a Loureiro da Silva, que um tresloucado pichador não deixou em paz, mas ainda bem que, antes desta homenagem, a estátua foi limpa novamente. Temos o Colégio Loureiro da Silva, mas, por mais importante que sejam essas denominações e esses lugares em que se pode visualizar Loureiro da Silva, o mais importante me parece ser o que disse o Ver. João Dib, simbolizando essa figura ímpar da história da nossa Porto Alegre do século passado, alguém que amou esta Cidade. E aqueles que tiveram oportunidade de trabalhar com Loureiro da Silva, como alguns dos senhores e senhoras, que trabalharam e conviveram com ele, sabem, como disse o Ver. João Antonio Dib, a importância de uma pessoa que exerce uma função pública por duas vezes, Prefeito desta Cidade e com outras funções que ocupou, e sabem que é somente através desse espírito, do amor a sua Cidade, que se pode, efetivamente, construir no presente com um olhar para o futuro. Pensar a Cidade, naquele momento, mas sempre com a visão de que esta Cidade se desenvolveria como se desenvolveu. E, dessa maneira, estamos hoje aqui, depois de tantos anos, para prestar esta homenagem.

Creio que em cada um de nós, do pouco que, talvez, alguns conheçam da história de Loureiro da Silva, sempre fica essa e outras imagens e realizações. Acredito que nós devemos nos inspirar nesses ideais, no jeito de ser, no jeito de fazer para olhar para o futuro, porque devemos pensar que estamos agora, como Loureiro também esteve, num determinado momento da Cidade, construindo, na verdade, colocando aqueles elementos fundamentais para que pudéssemos vivenciar esta Porto Alegre de hoje, para que nós, dessa maneira, pudéssemos construir o futuro que outras gerações vão viver. Por isso, em nome da minha Bancada, da Bancada do Partido dos Trabalhadores, presto esta singela homenagem, e quero terminar elogiando o Ver. João Antonio Dib por esta lembrança, porque é fundamental que, em todos os momentos, lembremos das pessoas que fizeram a nossa história, e nós estamos fazendo também parte dela. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Antes de passar a palavra ao próximo orador, quero registrar a presença entre nós, que muito nos gratifica, do Jornalista Celito de Grandi e Segundo Brasileiro Reis, pessoas com quem tenho profundas relações de amizade.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra em nome do PDT e solicito que fale também em nome da minha bancada, o PFL, na medida em que, relendo a história de Loureiro da Silva, sei-lo um deputado do Partido Liberal e um fundador do Partido Trabalhista Brasileiro.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) Honra-me muito, neste momento, fazer uso da tribuna desta Casa em nome do meu Partido, o PDT, em nome dos meus colegas de Bancada que aqui se fazem presentes, Ervino Besson, Dr. Goulart, mais os meus colegas que não se fazem presentes, José Fortunati, Nereu D’Avila e João Bosco Vaz, mas participaram desta homenagem, e em nome do PFL. E a nossa homenagem especial ao autor desta iniciativa, Ver. João Antonio Dib, porque Loureiro da Silva, através deste ilustre Vereador que teve a oportunidade de trabalhar junto com Loureiro da Silva, tem aqui nesta Casa, na Cidade de Porto Alegre e no Rio Grande, mantido acesa a chama dos ideais, dos pensamentos de José Loureiro da Silva. E ele, anualmente, faça sol ou faça chuva, não deixa de prestar homenagem e relembrar a figura de José Loureiro da Silva. E quando um homem público é lembrado, ele o é na busca do resgate daquilo que ele representou na sua trajetória de homem público.

Meus caros Vereadores, nossos convidados, familiares de José Loureiro da Silva, como nos dias atuais sentimos falta de homens da estirpe e da estrutura de um Loureiro da Silva. Por todas as razões, seja como administrador, seja por sua integridade, por sua lealdade, por seu profundo conteúdo de ação política numa época em que tanto esses valores estão sendo questionados. Fazem-nos falta homens como Loureiro da Silva. Oriundo de uma extraordinária vertente de homens públicos que o Rio Grande, independentemente das matizes ideológicas, trouxe no século que passou. E que teve na figura de Getúlio Vargas o iniciador desse processo, e poderíamos remontar até a um pouco antes: a Silveira Martins - Ver. Reginaldo Pujol -, a Júlio de Castilhos, a Borges de Medeiros que desaguou em Getúlio Vargas, em toda essa geração posterior.

Como é importante ter V. Ex.ª aqui na Casa, Ver. João Dib, resgatando, anualmente, debatendo e discutindo aquilo que representou Loureiro da Silva para Porto Alegre, para o Rio Grande e para o Brasil. Porque V. Ex.ª faz isso. E alguns extraordinários homens públicos, até por circunstâncias, muitas vezes não são lembrados, e eu invoco aqui Assis Brasil, Raul Pilla, Alberto Pasqualini - cujo centenário comemorávamos no ano passado -, Francisco Brochado da Rocha e tantas figuras extraordinárias desse conjunto de homens públicos que honraram o nosso Rio Grande.

Ah! Que saudades dessas figuras extraordinárias! Há pouco me falava o Ver. João Antonio Dib do resgate, da importância de trazer este legado a debate no momento em que o Jornalista Celito De Grandi prepara o lançamento da biografia deste extraordinário rio-grandense, também conhecido como Charrua. Não dá para dizer velho, porque sucumbiu aos sessenta e dois anos. Hoje a expressão jornalística sexagenário não é usada mais, porque os sexagenários são homens jovens, são homens que estão na grande condição de produção intelectual. E perdemos Loureiro da Silva com apenas sessenta e dois anos!

Como Getúlio, aquele que conhecíamos, meu caro Professor Sanseverino, como velho Getúlio, que morreu com apenas setenta e um anos de idade, meu caro Prefeito Villela. Então, essas figuras são lembradas e aqui, Ver. João Antonio Dib, V. Ex.ª faz esse resgate. Assim como este Vereador e o Ver. Dr. Goulart, anualmente, prestamos a nossa homenagem muito próximos, porque, onde acaba a Av. Loureiro da Silva, começa a Av. Presidente João Goulart, e então promovemos uma reflexão sobre o papel que Jango representou para a vida do Rio Grande e para a vida brasileira.

Por tudo isso, nós, participando desta solenidade, trazemos à reflexão e a debate e matemos viva a trajetória deste extraordinário homem público que deu esta contribuição a Porto Alegre, fazendo dele uma marca na cidade de Porto Alegre como seu grande administrador, José Loureiro da Silva, o Velho Charrua. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Antes de convidar os alunos da Escola Municipal Loureiro da Silva para fazer a apresentação de sua oficina cultural, nós queremos fazer um registro, Ver. João Antonio Dib, e o fazemos com muita satisfação: estive fazendo uma rememoração e verifiquei, Prefeito Villela, que José Loureiro da Silva foi o único Prefeito que eu consegui eleger. Em 1959, dois dias após ter completado meus vinte anos, votei pela primeira vez e votei em Loureiro da Silva; quatro anos depois, acompanhei o meu saudoso amigo Synval Guazelli e o Prof. José Sperb Sanseverino - já não obtínhamos o mesmo sucesso. Mais tarde, vários outros acontecimentos foram ocorrendo e eu não logrei mais a alegria de ver eleito o Prefeito da Cidade. Espero me reencontrar com a vitória dentro em breve.

Vamos assistir agora à apresentação das alunas da Escola Municipal Loureiro da Silva.

 

(Apresentação da Oficina da Escola Municipal Loureiro da Silva.)

 

A SRA. MARIA CELESTE POLAOR ETGES: Cada brasileiro deve ter direito à educação básica, à cultura e à cidadania, especialmente, na infância e na adolescência. A educação deve ser a pedra fundamental para a consciência da cidadania, e seu pleno exercício pode ser conquistado através do desenvolvimento de programas educacionais. Levando em consideração que cidadania é participar, a Escola Municipal de Ensino Fundamental José Loureiro da Silva decidiu deixar a indiferença de lado e cumprir com o seu papel de resgate da cidadania, quando realiza projetos que estão diretamente ligados à educação. Aqui se fala em educação no contexto pedagógico do desenvolvimento de um projeto ou um programa, e a ligação direta a uma escola.

Os projetos utilizam recursos fundamentais como disciplina, capacidade de trabalho, desafio e realização. Utiliza-se a escola para educar a sua vontade, sua autodisciplina e sua capacidade de trabalhar frustrações. Quando se utiliza a disciplina e a sistematização acadêmica, exigida no trabalho, desenvolve-se o desejo, o querer e a busca do caminho para atingir o desejado e exercita-se a perseverança. Quando se utiliza a apreciação para ressaltar, aprender e apreciar a cultura e o belo, aprende-se a respeitar as diferenças e isso alimenta o sonho. Quando se distribuem papéis e tarefas, resgata-se o grupo como forma de ação, proporcionando a interação não apenas como um único objetivo.

A nossa Escola trabalha em parceria com o sonho, alimenta o amor que temos por nós e educa sentimentos básicos de felicidade, solidariedade e participação. Os projetos podem ser artísticos por sua riqueza cultural e gestual ou podem ser um grupo de amigos reunidos pelo simples prazer de compartilhar, produzir e interpretar.

A relação com a Escola é desenvolvida através do conhecimento, da experimentação e da apreciação das diferenças. Direção, objetivo a partir de um sonho, segurança, estrutura, sistematização, confiança, respeito ao sonho de um grupo e exercício da criatividade melhoram a auto-estima das pessoas, tornando-as mais felizes e preocupadas em fazer outras pessoas felizes. Utilizar a escola para educar por valores não é só fazer o que se quer, mas o que se quer para atingir metas. Valor é tudo aquilo que apreciamos e pelo qual lutamos, é referencial, é o que queremos e o que preferimos. A criança com auto-estima cresce participativa em sua vida social, familiar e profissional. No futuro, terá a sua consciência liberal e generosa, serão seres com bom-humor e otimismo, que crescerão na capacidade humana. É mais fácil amar o belo. Não é o único valor, mas tornar-se mais belo pode ser a porta de entrada para resgate da cidadania. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

(Apresentação de jogral pelos alunos da Escola Municipal José Loureiro da Silva.)

 

“Dança: é muito mais que um estilo, é a manifestação de um sentimento. Qualquer corpo pode ser treinado a fazer movimentos para dançar, principalmente quando é feito a partir da alma. A dança que realmente fala é a que modifica a partir do espetáculo e a que entra na alma do espectador.”

“A aeróbica é importante, pois através dela botamos nosso corpo em movimento, expressamos nossos sentimentos e cuidamos da nossa saúde. Também através da dança e da aeróbica podemos mostrar o que sabemos, mostrar nosso talento. Estamos na aeróbica também, porque todos nós temos obstáculos e nesses obstáculos estão nossos sonhos. E um dos sonhos é dançar, apenas dançar. Estudar civilidade não é só falar sobre sexo, artes e drogas, mas também sobre assuntos que nos trazem prazer e felicidade.”

“Paz, é você quem faz!” (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): A apresentação da oficina dos alunos da Escola Municipal José Loureiro da Silva é a integração da escola, que tem como patrono o nosso homenageado nesses festejos que a Câmara Municipal faz alusivos ao seu centenário.

Finda a nossa solenidade, convidamos os presentes para se dirigirem até o Salão Adel Carvalho onde será inaugurada uma mostra fotográfica, organizada pelo Ver. João Antonio Dib, alusiva ao centenário de Loureiro da Silva.

Convidamos a todos para que, de pé, ouçamos o Hino Municipal de Porto Alegre.

 

(A Banda Municipal executa o Hino de Porto Alegre.)

 

Agradecemos a presença de todos, especialmente do Sr. José Macedo e da sua senhora, Irene Loureiro Macedo, filha do nosso homenageado; a nossa querida amiga Regina Schneider Loureiro, nora do homenageado, e demais autoridades.

Convidamos a todos para, após o encerramento desta Sessão Solene, prestigiarmos o descerramento da placa de inauguração da mostra fotográfica em homenagem ao centenário de nascimento de José Loureiro da Silva.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h10min.)

 

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